Sérgio Sette Câmara: NIO, Gen3, período na Dragon e proposta recebida tardiamente
Em entrevista, o piloto brasileiro falou sobre a sua trajetória na Dragon Penske, a mudança para NIO, novidades do Gen3 e a quase ida para uma equipe grande da Fórmula E

Durante uma live realizada com o Sérgio Sette Câmara na última terça-feira (4), no canal da jornalista Renata Correia - que teve a participação da jornalista Sonia Cury aqui do Entre Fórmulas - o piloto comentou sobre a sua ida para a NIO, novidades do Gen3, fez um balanço do que enfrentou ao longo das temporadas em que correu pela equipe Dragon, além de comentar sobre uma proposta que recebeu de uma equipe grande da Fórmula E.
O final da oitava temporada da principal categoria elétrica da FIA, trouxe muitas especulações sobre o destino de cada piloto, uma vez que com a saída de algumas equipes e chegada de outras, as coisas mudariam para grande parte do grid.
Sérgio falou de sua preocupação em conseguir um assento para a temporada de 2023, já que por correr na Dragon Penske ele acabava ficando no fundo grid na maior parte do tempo e com isso não era muito visado, apesar de ter feito coisas sensacionais dentro de pista - o que foi reconhecido de maneira quase unânime pelos pilotos da Fórmula E.
“Eu tava correndo em Nova York, era julho e vários assentos já tinham sido fechados e eu estava começando a ficar apreensivo. É difícil você se destacar no carro da Dragon. Mesmo em um dia em que você tira o máximo do carro, você não deixa de estar andando no fundo do grid. Eu sabia que apesar de eu estar indo bem, eu estava numa posição onde eu não estava no holofote”, disse.
Foi mais ou menos nessa época do E-Prix de Nova York que ele recebeu a proposta da NIO. Sette Câmara explicou que tentou contato com outras equipes e que mesmo com o interesse de algumas delas, o piloto não era visto como uma primeira opção, mas sim, segunda.
O objetivo principal do brasileiro era permanecer na Fórmula E e diante de um possível cenário onde ficaria sem vaga, o único lugar que manteve a porta aberta desde o primeiro instante foi a NIO, o que fez ele assinar com a equipe.
“A NIO foi a equipe que demonstrou interesse e a gente sabe que não é uma equipe de ponta, mas veio com um projeto interessante. Eu gostei das propostas que eles apresentaram e acabei fechando com eles”, comentou Sérgio.
Mesmo com as equipes buscando fazer novas contratações meses antes do final da temporada, geralmente, os anúncios oficiais dos pilotos que correrão no ano seguinte só são realizados de maneira pública após a finalização do campeonato.
Por isso, quando a etapa realizada em Seul chegou, o piloto brasileiro foi surpreendido ao receber uma proposta de uma equipe grande um dia antes da primeira corrida na Coreia do Sul.
“Um dia antes da etapa da Coreia, eu recebo uma chamada de um chefe de equipe - da que eu considero a maior equipe da Fórmula E - demonstrando interesse. O piloto que era prioridade deles tinha dado para trás. O cara decidiu ficar nos Estados Unidos, que é onde ele corria. Liberou essa vaga e eles queriam de qualquer jeito que eu rompesse com a NIO, mas não tinha como. A NIO fechou comigo e o contrato era bem sólido e eu fiquei numa posição onde eu não ia cometer nenhuma loucura de quebrar contrato, isso eu não faço. Eu fiquei onde eu estava mesmo”, revelou.
Já com a sua nova equipe, Sérgio começou a realizar recentemente os testes com o Gen3 e falou um pouco sobre a diferença do ambiente da NIO em relação a Dragon Penske e algumas das dificuldades que a sua antiga equipe enfrentou.
“A NIO é uma equipe maior do que a Dragon. Quando eu entrei a Dragon não era uma equipe tão pequena, só que os donos da equipe foram abandonando o projeto. Nesse último ano, não tinha investimento quase nenhum, a equipe tinha o mínimo de pessoas para fazer a parte operacional. Não tinha ninguém dedicado ao desenvolvimento. Era só realmente a parte que tinha que estar ali para a equipe poder rodar”, disse.
Sérgio contou que na Dragon tinham por volta de 6 engenheiros, totalizando 16 pessoas na equipe. Já a realidade da NIO 333 é um pouco diferente, a começar que eles tem cerca de 36 pessoas, o que é mais do que o dobro da Dragon Penske.
Ainda não chega a ser muito, porque em termos de números tem equipes muito mais estruturadas, porém, já se tem uma quantidade boa para fazer as coisas funcionarem com uma certa ordem. Isso é notável pela confiabilidade do carro, o trabalho executado com os dados obtidos e também na parte de comunicação da NIO, que é bastante ativa nas redes sociais e consegue criar uma relação próxima com os fãs da categoria.
“A parte da cultura da equipe é de um ambiente bem família, o pessoal é bem amigo. Nessas equipes com mais de 50 pessoas o ambiente muda, deixa de ser uma equipe familiar, vamos dizer assim, e vira um ambiente mais corporativo, tem toda uma hierarquia. Isso é uma coisa que eu gosto da NIO, porque ela é grande o suficiente para ter recursos, mas não tão grande para virar uma equipe burocrática, o que acaba sendo uma desvantagem das equipes muito grandes”, comentou.
OS PROBLEMAS NA ATUALIZAÇÃO DO CARRO DA DRAGON NA SÉTIMA TEMPORADA

Sérgio correndo pela Dragon no E-Prix de Roma 2022 (foto: FIA Formula E)
Em 2021, a Fórmula E estava na sua sétima temporada e algumas equipes já estrearam com o carro atualizado, enquanto outras mantiveram as configurações de acordo com o que foi utilizado na temporada anterior. A Dragon foi uma das equipes que optou por adiar a atualização e estreou na etapa de Diriyah ainda com o carro antigo.
Curiosamente, Sérgio teve o seu melhor desempenho na Fórmula E até o momento com essa versão desatualizada, onde conquistou um quarto lugar na etapa da Arábia Saudita.
Foi após a atualização feita pela equipe de Jay Penske, que as coisas começaram a desandar e o piloto comentou sobre uma situação inusitada que a equipe enfrentou com o motor que foi fabricado por uma empresa terceirizada.
“A Penske contrata uma empresa terceirizada que faz motores elétricos. Ela (Dragon Penske) faz todo o projeto do motor junto com a empresa e a empresa fabrica. Só que a empresa que fabricava o nosso motor mudou da temporada 6 para a temporada 7. O motor dessa empresa nova era muito diferente dos números que ela apresentou do que seria o motor, para o que de fato era. A gente achava que teria um upgrade, mas tivemos um downgrade. O motor da temporada 6 era melhor do que o da temporada 7”, revelou o piloto. “O motor novo era cerca de 1% menos eficiente que o motor antigo. Enquanto todas as outras equipes deram um passo para a frente, a gente deu um passo para trás.”
DIFERENÇAS DO GEN2 PARA O GEN3

Sérgio durante os testes do Gen3 com a NIO (foto: NIO 333)
A Fórmula E vem com muitas novidades para a nona temporada da categoria. Várias alterações devem acontecer no aspecto técnico e no regulamento. Como o Sette Câmara já iniciou os testes do Gen3, a curiosidade maior era saber a perspectiva do piloto, de como era dirigir o carro e o que era possível sentir de diferença.
“De dentro do carro a principal diferença é a potência, é muito mais potente e o carro anda muito de reta. O volante é bem mais pesado, eu não sei se isso se deve ao motor que a gente tem na frente. Às vezes, isso tá ajudando a pesar o volante, porque a gente não tem direção elétrica - ou se é por conta dos pneus mais largos -, mas é um carro muito físico de pilotar, muito físico mesmo. Eu fiz dois dias (de testes) em Varano, eu lembro que eu falei com todos os pilotos e todo mundo tava com bolha na mão, com o braço destruído. Acho que esse vai ser o carro mais físico que eu já pilotei, até mais do que o carro da Fórmula 2”, disse.
Em termos de novidade para a categoria, o fato do powertrain ter sido colocado na frente foi um desafio, já que o Gen3 não é um carro de fórmula tradicional onde só tem motor na parte de trás. São dois trens de força, um na parte traseira e outro na dianteira, o que proporciona uma capacidade de regeneração de energia muito maior.
Além disso, o carro não tem freio mecânico atrás, somente na frente, porque os motores conseguem dar conta de 80% da freada, portanto, os freios traseiros foram dispensados.
Sérgio informou que a partir do terceiro ano dessa nova geração de carros, que será na 11ª temporada da Fórmula E, as equipes terão a opção de usar o motor da frente para fazer o carro tracionar.
“Atualmente, esse motor é usado apenas para fins de regeneração de energia, mas no futuro ele pode ser aproveitado para as duas coisas. O carro pode ficar um fórmula 4x4, o que seria completamente inovador também”, disse.
OUTROS PONTOS ABORDADOS
Ao longo da live, Sette Câmara comentou sobre os pneus Hankook, que vão substituir os pneus da Michelin a partir de 2023, de como eles parecem ser resistentes e que estão desempenhando bem em diferentes temperaturas. Falou sobre o retorno do pit stop na nona temporada, onde os carros receberão uma carga extra de energia. Relembrou os pontos que conquistou em Londres após um final de semana repleto de altos e baixos. Além de falar sobre os rumores de uma possível ida de Felipe Drugovich para a categoria, as expectativas para o próximo ano com o E-Prix de São Paulo marcando a estreia da Fórmula E no Brasil e muito mais.
A live teve 1 hora e meia de duração e vale muito a pena conferir, porque está repleta de informações legais.
Deixamos o nosso agradecimento a Renata Correia não só pelo convite de participação, mas pela autorização para que o Entre Fórmulas pudesse trazer alguns dos tópicos abordados na live para este texto.
Abaixo vocês podem assistir o papo na íntegra:
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